Aventura/Drama - 21 de Dezembro de 2012
Ang Lee (Tigre e o Dragão)
"O filme mais interessante que usa o artifício
da exibição em 3D até hoje"
Muitos filmes considerados grandes narrativas possuem uma ordem cronológica especial. Em "Life of Pi" assistimos a um filme que com seu conteúdo e enredo não precisa de uma narrativa arrojada, invertida ou cheia de flashbacks, resgantando corajosamente o modo linear e um narrador simples, nos levando a um conto cinematográfico belíssimo.
A construção do personagem principal nos mostra que o longa não será mais um filme de náufrago ou de sobrevivência, mas sobre fé e ainda mais eficientemente sobre a natureza humana, onde o garoto que sofria com os apelidos devido ao seu nome e sua opção religiosa inusitada se vê o único sobrevivente de um naufrágio.
Se esperávamos um jovem que começaria a questionar o deus (ou os deuses) que tanto acreditou por fazê-lo perder toda a família nos enganamos, a fé dele permanece enquanto ele convive com uma zebra machucada, uma hiena faminta e um orangotango doente, tendo mais tarde que enfrentar a dura vida no meio do oceano com um tigre-de-bengala feroz, sedento e com fome.
O livro utilizado para a adaptação e o filme nos fazem ver o lado de um náufrago animal (o tigre Richard Parker) que enquanto se adapta à convivência com um ser humano vê Pi caminhar no processo inverso, chegando mais próximo do instinto selvagem do Homem.
Isso acaba por aproximar em nível de alma ou estado de espírito a fera e o humano, nos remetendo ao início da película onde Pi acreditava que os animais tivessem alma quando seu pai queria provar-lhe o contrário. E em sua despedida o animal ainda permanece verossímil às atitudes de um ser selvagem, mostrando o equilíbrio entre conto e realidade que o filme tem do seu início ao fim.
O longa vai se tornando persuasivo a cada vez que se aproxima do minuto final, mesmo que a princípio, para Pi, essa não seja a função da sua história, o que depois já é contradito quando ele afirma que a parte do conto em que ele (o escritor para quem está relatando sua aventura) acreditaria em Deus chegaria logo.
A desconstrução que é feita da história que foi contada durante o filme é maior metáfora que toda a "Ilha Viva jamais vista", nos faz questionar se foi tudo real ou ficção e nos trás a pensar por que um livro/filme fictício poderia trazer um ensinamento? Não seria assim com a vida e a religião?
A conclusão é ótima e a decisão do escritor canadense não é ingênua quando é esperado que ele diga: "Realmente sua história fez-me acreditar em Deus" isso não é feito. Ele agradece o conto e diz que ele é ótimo para seu livro. E ainda que esse diálogo entre o Piscine adulto seja um meio facilitador para a narrativa do longa, se mostra eficiente, principalmente no fator de que o seu entrevistador toma o lugar da plateia e transmite nas falas do filme o que nós pensamos ao ver algumas cenas.
A conclusão é ótima e a decisão do escritor canadense não é ingênua quando é esperado que ele diga: "Realmente sua história fez-me acreditar em Deus" isso não é feito. Ele agradece o conto e diz que ele é ótimo para seu livro. E ainda que esse diálogo entre o Piscine adulto seja um meio facilitador para a narrativa do longa, se mostra eficiente, principalmente no fator de que o seu entrevistador toma o lugar da plateia e transmite nas falas do filme o que nós pensamos ao ver algumas cenas.
Enfim, o filme nos trás efeitos especiais nunca vistos, animais altamente realísticos (quatro tigres foram usados nas gravações porém em sua maior parte ele é feito em computador), vários pontos para se explorar o 3D da melhor forma possível - ainda melhor que em "Hugo (2011)" - e um conto simples de um personagem complexo assim como o número irracional que ele tomou como apelido. As Aventuras de Pi é uma adaptação cheia de beleza e poesia, e mesmo não sendo a mais memorável peça cinematográfica a tratar do tema da Fé alcança, ao meu ver, o que se propõe a exibir.
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